quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Trabalho de campo (3)

Posteriormente tive a oportunidade de conversar informalmente com a proprietária, uma mulher na casa dos 40 anos de idade, de alguma beleza natural e na qual sobressaíam uns olhos claros generosamente maquilhados em tons de preto e azul escuro, e aos quais era impossível ficar insensível tal era a sua carga expressiva. Poderia inclusive ser comparada com algumas gravuras femininas do antigo Egipto.
A sua colaboração acabou por me surpreender. Sendo eu, um mero aprendiz de sociólogo, considerei-me afortunado por ter tido o privilégio de conversar com um actor social de tais performances. A postura constante de “olhos nos olhos” ao longo da conversa, em associação com a pertinência da mesma foi o ponto mais forte.
A convicção de estar a prestar um “serviço humanitário a quem a procurava, através da terapia da alma” (foram exactamente estas as suas palavras), não pode ser considerado surpreendente, pois não se pode escamotear o facto de aquela mulher ser parte de um determinado contexto.
Não é meu intuito desmistificar ou mistificar situações como a observada, fazer juízos de valor em relação à mesma ou a quem dela se socorre para a dita terapia da alma.
Parafraseando Gilberto Velho, poderia fazer a analogia com o corpo humano, ou seja, do palpitar da vida como é vivida e de como aquela, naquele espaço, tem um sabor e um cheiro muito próprios. Entre as questões possíveis uma se me afigurou: quem exercia maior influência sobre quem? A mulher de branco com toda a carga simbólica que a rodeava ou os pacientes com as suas necessidades (racionais)?

2 comentários:

Anónimo disse...

Adorei este post pela discrição da experiência e pela história em si. A vossa actividade deve ser bastante interessante e diversificada. Continuem a brindar-nos com mais experiências como a descrita. Lurdes Baeta

Anónimo disse...

Gostei muito dos textos e principalmente da maneira como aborda e narra os factos. Vou ler sempre que puder!
Beijo,
Carla