quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Trabalho de campo (2)

Partilho, aqui convosco, uma experiência sui generis acontecida no âmbito de um trabalho que versava a temática das linguagens não verbais de uma situação social. Esta observação específica teve o intuito de tentar perceber até que ponto as grandes linhas de força da linguagem não verbal, do exótico e do simbólico, podem ser suficientemente fortes na interacção entre as pessoas.
No caso, dirigi-me a uma loja/consultório onde se podia encontrar uma mistura de situações relacionadas com o místico e o sobrenatural.
A mistura, de misticismo e surrealismo, era composta pelo artesanato diverso, o qual inclui-a entre outros, símbolos e figuras cristãs, afro-brasileiras, orientais e pagãs. De permeio, chás para as mais diversas maleitas, sacos de sal marinho, feitiços ciganos para as mais diversas situações, maus-olhados, pedras místicas, velas coloridas e de cheiro, literatura sobre feitiçaria e afins, etc, para comercialização aos clientes/”pacientes”.
Destaco, uma curiosidade, uma das prateleiras chamava especialmente à atenção, passível até de fazer corar o mais desprevenido, pela ornamentação que ostentava: velas de diversos tamanhos, representativas de órgãos sexuais masculinos.
Levada a cabo num dia de semana, tive a sorte de o fazer numa hora de consultas, às quais tive acesso, embora à distância. Ao fundo da loja, semi-escondida por detrás de um biombo improvisado por um lençol em tons azulados, encontrava-se sentada no cimo de um escadote uma mulher, vestida de branco aparentando estar em transe. Aqui constatei a principal interacção que decorria no espaço, isto é, a mulher de branco consultava uma outra mulher sentada num cadeirão.
O silêncio imperou durante, largos minutos, ou seja, o tempo que durou a consulta, silencio apenas interrompido, de quando em vez, pelo toque do telefone e de breves sussurros, no mesmo, a despachar inoportuna interrupção.
Após a consulta a mulher de branco, desceu do cimo do escadote e em transe avançou pela loja, transportando, dependurado por entre os dedos da mão direita, um fio, de onde se destacava uma, enorme, pedra azul clara. Circulando pela loja, fê-la balançar por entre os artigos expostos e foi indicando os produtos a serem adquiridos pela paciente.
Os escolhidos foram: o sal “marinho”, um fio idênticos ao que era transportado pela mulher de branco, mas com uma pedra de menor dimensão, e ainda um saco de um estranho pó branco. Um eficiente jovem, que se encontrava sentado por detrás de um balcão, de onde se destacava a caixa registadora, instruiu a paciente sobre o destino a dar aos produtos.

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