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sábado, 24 de outubro de 2009

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Trabalho de campo (3)

Posteriormente tive a oportunidade de conversar informalmente com a proprietária, uma mulher na casa dos 40 anos de idade, de alguma beleza natural e na qual sobressaíam uns olhos claros generosamente maquilhados em tons de preto e azul escuro, e aos quais era impossível ficar insensível tal era a sua carga expressiva. Poderia inclusive ser comparada com algumas gravuras femininas do antigo Egipto.
A sua colaboração acabou por me surpreender. Sendo eu, um mero aprendiz de sociólogo, considerei-me afortunado por ter tido o privilégio de conversar com um actor social de tais performances. A postura constante de “olhos nos olhos” ao longo da conversa, em associação com a pertinência da mesma foi o ponto mais forte.
A convicção de estar a prestar um “serviço humanitário a quem a procurava, através da terapia da alma” (foram exactamente estas as suas palavras), não pode ser considerado surpreendente, pois não se pode escamotear o facto de aquela mulher ser parte de um determinado contexto.
Não é meu intuito desmistificar ou mistificar situações como a observada, fazer juízos de valor em relação à mesma ou a quem dela se socorre para a dita terapia da alma.
Parafraseando Gilberto Velho, poderia fazer a analogia com o corpo humano, ou seja, do palpitar da vida como é vivida e de como aquela, naquele espaço, tem um sabor e um cheiro muito próprios. Entre as questões possíveis uma se me afigurou: quem exercia maior influência sobre quem? A mulher de branco com toda a carga simbólica que a rodeava ou os pacientes com as suas necessidades (racionais)?

Trabalho de campo (2)

Partilho, aqui convosco, uma experiência sui generis acontecida no âmbito de um trabalho que versava a temática das linguagens não verbais de uma situação social. Esta observação específica teve o intuito de tentar perceber até que ponto as grandes linhas de força da linguagem não verbal, do exótico e do simbólico, podem ser suficientemente fortes na interacção entre as pessoas.
No caso, dirigi-me a uma loja/consultório onde se podia encontrar uma mistura de situações relacionadas com o místico e o sobrenatural.
A mistura, de misticismo e surrealismo, era composta pelo artesanato diverso, o qual inclui-a entre outros, símbolos e figuras cristãs, afro-brasileiras, orientais e pagãs. De permeio, chás para as mais diversas maleitas, sacos de sal marinho, feitiços ciganos para as mais diversas situações, maus-olhados, pedras místicas, velas coloridas e de cheiro, literatura sobre feitiçaria e afins, etc, para comercialização aos clientes/”pacientes”.
Destaco, uma curiosidade, uma das prateleiras chamava especialmente à atenção, passível até de fazer corar o mais desprevenido, pela ornamentação que ostentava: velas de diversos tamanhos, representativas de órgãos sexuais masculinos.
Levada a cabo num dia de semana, tive a sorte de o fazer numa hora de consultas, às quais tive acesso, embora à distância. Ao fundo da loja, semi-escondida por detrás de um biombo improvisado por um lençol em tons azulados, encontrava-se sentada no cimo de um escadote uma mulher, vestida de branco aparentando estar em transe. Aqui constatei a principal interacção que decorria no espaço, isto é, a mulher de branco consultava uma outra mulher sentada num cadeirão.
O silêncio imperou durante, largos minutos, ou seja, o tempo que durou a consulta, silencio apenas interrompido, de quando em vez, pelo toque do telefone e de breves sussurros, no mesmo, a despachar inoportuna interrupção.
Após a consulta a mulher de branco, desceu do cimo do escadote e em transe avançou pela loja, transportando, dependurado por entre os dedos da mão direita, um fio, de onde se destacava uma, enorme, pedra azul clara. Circulando pela loja, fê-la balançar por entre os artigos expostos e foi indicando os produtos a serem adquiridos pela paciente.
Os escolhidos foram: o sal “marinho”, um fio idênticos ao que era transportado pela mulher de branco, mas com uma pedra de menor dimensão, e ainda um saco de um estranho pó branco. Um eficiente jovem, que se encontrava sentado por detrás de um balcão, de onde se destacava a caixa registadora, instruiu a paciente sobre o destino a dar aos produtos.

Trabalho de campo (1)

Como escrevi há dias, o meu “queijo estava de novo embolorado” e, era a altura de mudar. Não, esta não é a única volta de 180 graus na minha vida, já em 1992, era então profissional aduaneiro, com a livre circulação de mercadorias e bens, na CEE, fiquei sem trabalho e sem profissão e, tive que procurar um novo “queijo”.
Há quatro anos, ao optar por me licenciar em Sociologia, apesar dos meus 42 anos de idade, em boa hora procurei no labirinto, não que tenha até agora ganho rios de dinheiro, longe disso.
Com a sociologia, tirando um prémio de mérito académico no valor de 923 euros, uma ou outra participação pontual em projectos de investigação, um ou outro artigo na imprensa regional ou uma tentativa de me usurparem um projecto... nikles.
No entanto, existem coisas que me fascinam nesta profissão e elas são: o trabalho de campo e a análise estatística. Em qualquer uma delas, independentemente dos objectivos pretendidos, se estivermos atentos podemos sempre tirar outras “histórias” para o nosso álbum.
No trabalho de campo, onde me sinto particularmente à vontade, talvez devido ao meu passado como consultor comercial e ao permanente contacto com as pessoas, das visitas aos locais de culto religioso mais inusitados, como seja, por exemplo, o caso de uma sala ao fundo de um super-mercado algures em Lisboa, ao tratamento VIP por parte de uma vidente, por achar que em uma vida passada fui o “Homem do caldeirão, de tudo nos pode acontecer.