Parafraseando Daniel Sampaio, por favor... Inventem-se novos pais.
Vem isto a propósito de algo que tenho “vivido por dentro”, embora de forma mais ou menos indirecta e, que diz respeito aos trabalhos de grupo de crianças do 5º ano de escolaridade.
Ou seja, a minha sobrinha, que frequenta o dito, como seria lógico e plausível, tem-me solicitado apoio na elaboração de alguns dos ditos trabalhos. Da minha parte e acima de tudo tenho primado pelo inculcamento de hábitos que versam as técnicas e metodologias, quer na pesquisa dos conteúdos, quer na sua elaboração, sem qualquer tipo de interferência na feitura dos mesmos.
Acontece porém, que me fui apercebendo de que algo, fora do contexto, ocorria, ou seja, a existência da interferência e disputa acérrima e inusitada da parte dos encarregados de educação, dos restantes elementos do grupo, sobre quem fez e o que fez em cada trabalho.
No entanto, não satisfeitos com tais actos, substituem os respectivos educandos elaborando eles os trabalhos, impossibilitando-os e incapacitando-os, deste modo, não só da criatividade, como do empreendedorismo necessários, para a evolução no que respeita ao percurso escolar, nesta faixa etária.
Perante tais evidencias, lembrei-me de imediato dos resultados de um trabalho realizado há cerca de um ano, embora com encarregados de educação e alunos de escolaridade mais elevada, mas que podem perfeitamente serem inferidos para o contexto descrito, e no qual constatei alguns factos que aqui relembro.
Normalmente, muitos de nós quando usamos o termo educar nas conversas quotidianas comuns pensamos muitas vezes na educação como sinónimo de disciplinar ou domesticar, ou seja, raramente se emprega a palavra educação sem lhe delimitar imediatamente o sentido.
Nesse estudo, foi proposta uma definição - possivelmente criticável – mas que serviu de ponto de partida, isto é, a educação como uma acção consciente que permite a um ser humano desenvolver as suas aptidões físicas e intelectuais bem como os seus sentimentos sociais, estéticos e morais, com o objectivo de cumprir, tanto quanto possível, a sua missão como ser que vive em sociedade.
Partindo desse pressuposto interessou-nos, entre outras mas que não interessam para o exposto, saber a opinião dos encarregados de educação perante a questão, "Na tarefa de educar, a escola deve privilegiar": a preparação cientifica, os métodos de trabalho, a sensibilização para os valores, a educação cívica.
O objectivo consistia em analisar a avaliação feita pelos encarregados de educação, relativamente às diferentes situações apresentadas, onde estavam subjacentes, grosso modo, tanto os aspectos intelectuais como os sociais.
Nas respostas dadas sobressaiu a desvalorização dada à "Educação cívica" e à "Sensibilização para os valores", que representaram, 7% e 18%, respectivamente, das respostas. Constatou-se que os inquiridos valorizavam, sobretudo, como tarefa de educar os seus educandos, os aspectos da "Preparação cientifica" (34%) e os "Métodos de trabalho" (31%).
Por outro lado, quando questionados sobre "O que espera que a escola proporcione ao seu filho / educando", o aspecto da "Formação cientifica adequada", apareceu, somente, em terceiro lugar, em cinco possíveis.
No que respeita aos professores, os representantes mais visíveis do poder institucional escolar, por muitos apontados como os responsáveis directos pelas insuficiências que aparentam envolver a prestação menos conseguida dos alunos, sobretudo quando a avaliação que lhes é feita se traduz em resultados que os pais não esperam. Os encarregados de educação não se coibiam de apontar o dedo aos professores não apenas pelo insucesso escolar, mas também pelo suposto grau de exigência que é colocado no processo de avaliação.
Eis as respostas de alguns docentes: [...] Para a grande maioria dos pais interessa é que o professor dê a melhor nota possível e se necessário fazer pressão para se obter o melhor resultado… a preocupação dos pais não é se o programa está a ser ensinado, desde que o professor dê aquela nota está tudo bem […]. […] Os pais têm sempre a tendência de valorizar e desculpabilizar os filhos. Contestam com frequência as notas que são atribuídas e responsabilizam quase sempre os professores quando as notas não são as melhores. Muitas vezes preocupa-os mais a avaliação, do que se os filhos sabem ou não o que os professores procuraram ensinar-lhes […].
Como se constata existe um determinado tipo de comportamento por parte dos encarregados de educação, sobretudo quando está em jogo a avaliação dos filhos ou educandos. Tal não significa que se deva apenas apontar aspectos negativos à intervenção dos pais no processo de aprendizagem dos jovens alunos. De facto, não generalizando as atitudes comportamentais antes referidas, até se podem encontrar, no actual contexto da sociedade, algumas justificações, para o modo como actuam, onde a compensação pelas falhas no acompanhamento dos filhos parece acabar por ser feita através de um certo facilitismo e de alguma permissividade. Isto é, como sublinha Pierre Bourdieu, as acções pedagógicas exercidas pelas famílias e pela Escola "não se complementam harmoniosamente" dada a desigual familiaridade e distância cultural perante a Escola.
PS: O presente artigo, não se apresenta como uma critica a eventuais e/ou evidentes deficiências do sistema educativo em Portugal.
Vem isto a propósito de algo que tenho “vivido por dentro”, embora de forma mais ou menos indirecta e, que diz respeito aos trabalhos de grupo de crianças do 5º ano de escolaridade.
Ou seja, a minha sobrinha, que frequenta o dito, como seria lógico e plausível, tem-me solicitado apoio na elaboração de alguns dos ditos trabalhos. Da minha parte e acima de tudo tenho primado pelo inculcamento de hábitos que versam as técnicas e metodologias, quer na pesquisa dos conteúdos, quer na sua elaboração, sem qualquer tipo de interferência na feitura dos mesmos.
Acontece porém, que me fui apercebendo de que algo, fora do contexto, ocorria, ou seja, a existência da interferência e disputa acérrima e inusitada da parte dos encarregados de educação, dos restantes elementos do grupo, sobre quem fez e o que fez em cada trabalho.
No entanto, não satisfeitos com tais actos, substituem os respectivos educandos elaborando eles os trabalhos, impossibilitando-os e incapacitando-os, deste modo, não só da criatividade, como do empreendedorismo necessários, para a evolução no que respeita ao percurso escolar, nesta faixa etária.
Perante tais evidencias, lembrei-me de imediato dos resultados de um trabalho realizado há cerca de um ano, embora com encarregados de educação e alunos de escolaridade mais elevada, mas que podem perfeitamente serem inferidos para o contexto descrito, e no qual constatei alguns factos que aqui relembro.
Normalmente, muitos de nós quando usamos o termo educar nas conversas quotidianas comuns pensamos muitas vezes na educação como sinónimo de disciplinar ou domesticar, ou seja, raramente se emprega a palavra educação sem lhe delimitar imediatamente o sentido.
Nesse estudo, foi proposta uma definição - possivelmente criticável – mas que serviu de ponto de partida, isto é, a educação como uma acção consciente que permite a um ser humano desenvolver as suas aptidões físicas e intelectuais bem como os seus sentimentos sociais, estéticos e morais, com o objectivo de cumprir, tanto quanto possível, a sua missão como ser que vive em sociedade.
Partindo desse pressuposto interessou-nos, entre outras mas que não interessam para o exposto, saber a opinião dos encarregados de educação perante a questão, "Na tarefa de educar, a escola deve privilegiar": a preparação cientifica, os métodos de trabalho, a sensibilização para os valores, a educação cívica.
O objectivo consistia em analisar a avaliação feita pelos encarregados de educação, relativamente às diferentes situações apresentadas, onde estavam subjacentes, grosso modo, tanto os aspectos intelectuais como os sociais.
Nas respostas dadas sobressaiu a desvalorização dada à "Educação cívica" e à "Sensibilização para os valores", que representaram, 7% e 18%, respectivamente, das respostas. Constatou-se que os inquiridos valorizavam, sobretudo, como tarefa de educar os seus educandos, os aspectos da "Preparação cientifica" (34%) e os "Métodos de trabalho" (31%).
Por outro lado, quando questionados sobre "O que espera que a escola proporcione ao seu filho / educando", o aspecto da "Formação cientifica adequada", apareceu, somente, em terceiro lugar, em cinco possíveis.
No que respeita aos professores, os representantes mais visíveis do poder institucional escolar, por muitos apontados como os responsáveis directos pelas insuficiências que aparentam envolver a prestação menos conseguida dos alunos, sobretudo quando a avaliação que lhes é feita se traduz em resultados que os pais não esperam. Os encarregados de educação não se coibiam de apontar o dedo aos professores não apenas pelo insucesso escolar, mas também pelo suposto grau de exigência que é colocado no processo de avaliação.
Eis as respostas de alguns docentes: [...] Para a grande maioria dos pais interessa é que o professor dê a melhor nota possível e se necessário fazer pressão para se obter o melhor resultado… a preocupação dos pais não é se o programa está a ser ensinado, desde que o professor dê aquela nota está tudo bem […]. […] Os pais têm sempre a tendência de valorizar e desculpabilizar os filhos. Contestam com frequência as notas que são atribuídas e responsabilizam quase sempre os professores quando as notas não são as melhores. Muitas vezes preocupa-os mais a avaliação, do que se os filhos sabem ou não o que os professores procuraram ensinar-lhes […].
Como se constata existe um determinado tipo de comportamento por parte dos encarregados de educação, sobretudo quando está em jogo a avaliação dos filhos ou educandos. Tal não significa que se deva apenas apontar aspectos negativos à intervenção dos pais no processo de aprendizagem dos jovens alunos. De facto, não generalizando as atitudes comportamentais antes referidas, até se podem encontrar, no actual contexto da sociedade, algumas justificações, para o modo como actuam, onde a compensação pelas falhas no acompanhamento dos filhos parece acabar por ser feita através de um certo facilitismo e de alguma permissividade. Isto é, como sublinha Pierre Bourdieu, as acções pedagógicas exercidas pelas famílias e pela Escola "não se complementam harmoniosamente" dada a desigual familiaridade e distância cultural perante a Escola.
PS: O presente artigo, não se apresenta como uma critica a eventuais e/ou evidentes deficiências do sistema educativo em Portugal.
3 comentários:
infelizmente é uma realidade dos nosso dias. Depois os pais queixam-se que os filhos não aprendem nada na escola.
Maria Luisa
Hi Paulo,
Unfortunately I cannot read your blog, but thanks for your comment on mine! I'm glad to hear that you like it! Is your research in a similar field?
É engraçado voces estarem aqui a focar este tema, porque é um problema que me tem assolado nestes últimos dois anos. Desde que a minha filha passou para o 2º ciclo, onde os trabalhos de grupo são mais utilizados,que eu enfrento problemas identicos.
Fernanda
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