sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O nosso blog, libertou-se

Conforme, certamente, já constataram nestes últimos dias algumas alterações aconteceram nas abordagens de alguns temas.
Quando criámos este blog, era nossa intenção desenvolver um trabalho mais intelectual e “qui çá” algo pedagógico numa visão mais sociológica e antropológica dos factos.
No entanto, não querendo vir a ser apelidados de sabichões ou de pseudo-intelectuais, decidimos ir aliviando o cientismo (não que o abandonemos e sempre que os factos o justifiquem, será essa via utilizada) e, ir diversificando as abordagens.
Porquê, perguntarão alguns de vocês? Em primeiro porque não queremos e como sublinhamos na discrição deste blog, ditar paradigmas, leis ou propostas de reforma ou coisa alguma.
Em segundo, porque conforme também sublinhamos no mesmo local, ao sermos todos protagonistas e ao mesmo tempo, produtos desta nova ordem, assim como testemunhas das transformações protagonizadas, devemos ter a capacidade de libertar-nos e sermos nós mesmos perante o que se nos afigura nesta aventura que é o quotidiano.
Em terceiro e último, porque os nossos visitantes são ávidos, não só de sucessivas novidades, mas também dos nossos olhares, mais simples, ou seja, menos científicos, quer perante a nova ordem, quer perante os factos (pelo menos é isso que nos têm feito chegar via email).
Esperamos que , acima de tudo, continuem a sentir-se bem sempre que nos visitem.

Magalhães de Cognome "O Tintin"


Quando no passado dia 13 de Outubro, aqui deixámos o post “Magalhães, o Instrumento”, ninguém certamente nos levou a sério.
Mas, eis que passados somente dezassete dias sobre essa data, o nosso primeiro, José Sócrates, surpreende-nos a todos e transforma o dito instrumento na grande estrela do discurso de abertura da 18ª Cimeira Ibero-americana, em El Salvador.
Globaliza o Magalhães atribuindo-lhe o Cognome de "O Tintin".
Como se pode constatar pelas imagens televisivas todos Chefes de Estado e de Governo presentes apresentavam de modo bem visível o cognomizado instrumento.
Vão por nós, ainda há-de ser o agora "Magalhães de Cognome o Tintin" que nos vai dar uma ajudinha a resolver a actual crise económica.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pelo cano abaixo?


Joe, O canalizador, aparece pela 1ª vez em publico ao lado de McCain

Fonte: The Times (Cartoon Peter Brookes)

Trabalho de campo (3)

Posteriormente tive a oportunidade de conversar informalmente com a proprietária, uma mulher na casa dos 40 anos de idade, de alguma beleza natural e na qual sobressaíam uns olhos claros generosamente maquilhados em tons de preto e azul escuro, e aos quais era impossível ficar insensível tal era a sua carga expressiva. Poderia inclusive ser comparada com algumas gravuras femininas do antigo Egipto.
A sua colaboração acabou por me surpreender. Sendo eu, um mero aprendiz de sociólogo, considerei-me afortunado por ter tido o privilégio de conversar com um actor social de tais performances. A postura constante de “olhos nos olhos” ao longo da conversa, em associação com a pertinência da mesma foi o ponto mais forte.
A convicção de estar a prestar um “serviço humanitário a quem a procurava, através da terapia da alma” (foram exactamente estas as suas palavras), não pode ser considerado surpreendente, pois não se pode escamotear o facto de aquela mulher ser parte de um determinado contexto.
Não é meu intuito desmistificar ou mistificar situações como a observada, fazer juízos de valor em relação à mesma ou a quem dela se socorre para a dita terapia da alma.
Parafraseando Gilberto Velho, poderia fazer a analogia com o corpo humano, ou seja, do palpitar da vida como é vivida e de como aquela, naquele espaço, tem um sabor e um cheiro muito próprios. Entre as questões possíveis uma se me afigurou: quem exercia maior influência sobre quem? A mulher de branco com toda a carga simbólica que a rodeava ou os pacientes com as suas necessidades (racionais)?

Trabalho de campo (2)

Partilho, aqui convosco, uma experiência sui generis acontecida no âmbito de um trabalho que versava a temática das linguagens não verbais de uma situação social. Esta observação específica teve o intuito de tentar perceber até que ponto as grandes linhas de força da linguagem não verbal, do exótico e do simbólico, podem ser suficientemente fortes na interacção entre as pessoas.
No caso, dirigi-me a uma loja/consultório onde se podia encontrar uma mistura de situações relacionadas com o místico e o sobrenatural.
A mistura, de misticismo e surrealismo, era composta pelo artesanato diverso, o qual inclui-a entre outros, símbolos e figuras cristãs, afro-brasileiras, orientais e pagãs. De permeio, chás para as mais diversas maleitas, sacos de sal marinho, feitiços ciganos para as mais diversas situações, maus-olhados, pedras místicas, velas coloridas e de cheiro, literatura sobre feitiçaria e afins, etc, para comercialização aos clientes/”pacientes”.
Destaco, uma curiosidade, uma das prateleiras chamava especialmente à atenção, passível até de fazer corar o mais desprevenido, pela ornamentação que ostentava: velas de diversos tamanhos, representativas de órgãos sexuais masculinos.
Levada a cabo num dia de semana, tive a sorte de o fazer numa hora de consultas, às quais tive acesso, embora à distância. Ao fundo da loja, semi-escondida por detrás de um biombo improvisado por um lençol em tons azulados, encontrava-se sentada no cimo de um escadote uma mulher, vestida de branco aparentando estar em transe. Aqui constatei a principal interacção que decorria no espaço, isto é, a mulher de branco consultava uma outra mulher sentada num cadeirão.
O silêncio imperou durante, largos minutos, ou seja, o tempo que durou a consulta, silencio apenas interrompido, de quando em vez, pelo toque do telefone e de breves sussurros, no mesmo, a despachar inoportuna interrupção.
Após a consulta a mulher de branco, desceu do cimo do escadote e em transe avançou pela loja, transportando, dependurado por entre os dedos da mão direita, um fio, de onde se destacava uma, enorme, pedra azul clara. Circulando pela loja, fê-la balançar por entre os artigos expostos e foi indicando os produtos a serem adquiridos pela paciente.
Os escolhidos foram: o sal “marinho”, um fio idênticos ao que era transportado pela mulher de branco, mas com uma pedra de menor dimensão, e ainda um saco de um estranho pó branco. Um eficiente jovem, que se encontrava sentado por detrás de um balcão, de onde se destacava a caixa registadora, instruiu a paciente sobre o destino a dar aos produtos.

Trabalho de campo (1)

Como escrevi há dias, o meu “queijo estava de novo embolorado” e, era a altura de mudar. Não, esta não é a única volta de 180 graus na minha vida, já em 1992, era então profissional aduaneiro, com a livre circulação de mercadorias e bens, na CEE, fiquei sem trabalho e sem profissão e, tive que procurar um novo “queijo”.
Há quatro anos, ao optar por me licenciar em Sociologia, apesar dos meus 42 anos de idade, em boa hora procurei no labirinto, não que tenha até agora ganho rios de dinheiro, longe disso.
Com a sociologia, tirando um prémio de mérito académico no valor de 923 euros, uma ou outra participação pontual em projectos de investigação, um ou outro artigo na imprensa regional ou uma tentativa de me usurparem um projecto... nikles.
No entanto, existem coisas que me fascinam nesta profissão e elas são: o trabalho de campo e a análise estatística. Em qualquer uma delas, independentemente dos objectivos pretendidos, se estivermos atentos podemos sempre tirar outras “histórias” para o nosso álbum.
No trabalho de campo, onde me sinto particularmente à vontade, talvez devido ao meu passado como consultor comercial e ao permanente contacto com as pessoas, das visitas aos locais de culto religioso mais inusitados, como seja, por exemplo, o caso de uma sala ao fundo de um super-mercado algures em Lisboa, ao tratamento VIP por parte de uma vidente, por achar que em uma vida passada fui o “Homem do caldeirão, de tudo nos pode acontecer.

Luta de classes

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Passado e presente

“O nosso mundo vive demasiado sob a tirania do medo e insistir em mostrar-lhe os perigos que o ameaçam só pode conduzi-lo à apatia da desesperança. O contrário é que é preciso: criar motivos racionais de esperança, razões positivas de viver. Precisamos mais de sentimentos afirmativos do que de negativos. Se os afirmativos tomarem toda a amplitude que justifique um exame estritamente objectivo da nossa situação, os negativos desagregar-se-ão, perdendo a sua razão de ser. Mas se insistirmos em demasia nos negativos, nunca sairemos do desespero”.

Bertrand Russell in A Última Oportunidade do Homem - Guimarães 1966

Qual cerveja, qual whisky... o tinto é que continua a dar


Déjà vu

( Fonte: Jornal “Zero Hora” de Porto Alegre / Brasil)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Modos de ver o outro

A nossa visão dos outros é influenciada por certos lugares comuns e, em particular, pelos preconceitos do nosso próprio meio social, ou seja, têm por si toda a força do hábito e das verdades consagradas pelo poder do institucionalizado, isto é, a designada “norma social”. A “norma”, é um preceito de conduta que corresponde a uma determinada situação social, ou seja, a norma social define, quer as situações, quer os modos de comportamento apropriado à mesma.
Quem apresenta um comportamento que se afasta da norma é considerado um “desviante ou outsider”, isto é, genericamente, um individuo em quem não se pode confiar para viver segundo as normas do grupo.
Transgredir uma norma legal constitui um delito, e o transgressor é então um delinquente, se o delito é grave, é considerado um criminoso. No entanto nem todas as condutas desviantes, ou seja, que se afastam das normas socialmente admitidas, são sancionadas pela lei.
Vem isto a propósito de uma reportagem transmitida, ontem, por uma canal de televisão generalista, a qual abordava o “quotidiano” de um solicitador de acção executiva e enfatizava as penhoras e acções de despejo que envolviam os considerados “desviantes ou outsiders”, vulgarmente designados por devedores ou “maus pagadores”.
Não pondo em causa a justiça de tais penhoras ou acções de despejo, o que nos levou a escrever estas linhas não são as características pessoais ou sociais dos visados, mas o processo, talvez não menos desviante pelo qual foram expostos.
A questão que aqui deixamos é saber até que ponto certos processos usados pela comunicação social, neste e noutros casos não poderão, eles também, ser considerados, igualmente, desviantes (por exemplo, veja-se o caso de alguns programas televisivos onde os entrevistados, geralmente pessoas de condição social baixa, expõem os seus “quotidianos” problemáticos e, são acompanhados em fundo por musica considerada adequada às circunstancias).

sábado, 25 de outubro de 2008

Pai... Mãe... Deixem-me aprender

Parafraseando Daniel Sampaio, por favor... Inventem-se novos pais.
Vem isto a propósito de algo que tenho “vivido por dentro”, embora de forma mais ou menos indirecta e, que diz respeito aos trabalhos de grupo de crianças do 5º ano de escolaridade.
Ou seja, a minha sobrinha, que frequenta o dito, como seria lógico e plausível, tem-me solicitado apoio na elaboração de alguns dos ditos trabalhos. Da minha parte e acima de tudo tenho primado pelo inculcamento de hábitos que versam as técnicas e metodologias, quer na pesquisa dos conteúdos, quer na sua elaboração, sem qualquer tipo de interferência na feitura dos mesmos.
Acontece porém, que me fui apercebendo de que algo, fora do contexto, ocorria, ou seja, a existência da interferência e disputa acérrima e inusitada da parte dos encarregados de educação, dos restantes elementos do grupo, sobre quem fez e o que fez em cada trabalho.
No entanto, não satisfeitos com tais actos, substituem os respectivos educandos elaborando eles os trabalhos, impossibilitando-os e incapacitando-os, deste modo, não só da criatividade, como do empreendedorismo necessários, para a evolução no que respeita ao percurso escolar, nesta faixa etária.
Perante tais evidencias, lembrei-me de imediato dos resultados de um trabalho realizado há cerca de um ano, embora com encarregados de educação e alunos de escolaridade mais elevada, mas que podem perfeitamente serem inferidos para o contexto descrito, e no qual constatei alguns factos que aqui relembro.
Normalmente, muitos de nós quando usamos o termo educar nas conversas quotidianas comuns pensamos muitas vezes na educação como sinónimo de disciplinar ou domesticar, ou seja, raramente se emprega a palavra educação sem lhe delimitar imediatamente o sentido.
Nesse estudo, foi proposta uma definição - possivelmente criticável – mas que serviu de ponto de partida, isto é, a educação como uma acção consciente que permite a um ser humano desenvolver as suas aptidões físicas e intelectuais bem como os seus sentimentos sociais, estéticos e morais, com o objectivo de cumprir, tanto quanto possível, a sua missão como ser que vive em sociedade.
Partindo desse pressuposto interessou-nos, entre outras mas que não interessam para o exposto, saber a opinião dos encarregados de educação perante a questão, "Na tarefa de educar, a escola deve privilegiar": a preparação cientifica, os métodos de trabalho, a sensibilização para os valores, a educação cívica.
O objectivo consistia em analisar a avaliação feita pelos encarregados de educação, relativamente às diferentes situações apresentadas, onde estavam subjacentes, grosso modo, tanto os aspectos intelectuais como os sociais.
Nas respostas dadas sobressaiu a desvalorização dada à "Educação cívica" e à "Sensibilização para os valores", que representaram, 7% e 18%, respectivamente, das respostas. Constatou-se que os inquiridos valorizavam, sobretudo, como tarefa de educar os seus educandos, os aspectos da "Preparação cientifica" (34%) e os "Métodos de trabalho" (31%).
Por outro lado, quando questionados sobre "O que espera que a escola proporcione ao seu filho / educando", o aspecto da "Formação cientifica adequada", apareceu, somente, em terceiro lugar, em cinco possíveis.
No que respeita aos professores, os representantes mais visíveis do poder institucional escolar, por muitos apontados como os responsáveis directos pelas insuficiências que aparentam envolver a prestação menos conseguida dos alunos, sobretudo quando a avaliação que lhes é feita se traduz em resultados que os pais não esperam. Os encarregados de educação não se coibiam de apontar o dedo aos professores não apenas pelo insucesso escolar, mas também pelo suposto grau de exigência que é colocado no processo de avaliação.
Eis as respostas de alguns docentes: [...] Para a grande maioria dos pais interessa é que o professor dê a melhor nota possível e se necessário fazer pressão para se obter o melhor resultado… a preocupação dos pais não é se o programa está a ser ensinado, desde que o professor dê aquela nota está tudo bem […]. […] Os pais têm sempre a tendência de valorizar e desculpabilizar os filhos. Contestam com frequência as notas que são atribuídas e responsabilizam quase sempre os professores quando as notas não são as melhores. Muitas vezes preocupa-os mais a avaliação, do que se os filhos sabem ou não o que os professores procuraram ensinar-lhes […].
Como se constata existe um determinado tipo de comportamento por parte dos encarregados de educação, sobretudo quando está em jogo a avaliação dos filhos ou educandos. Tal não significa que se deva apenas apontar aspectos negativos à intervenção dos pais no processo de aprendizagem dos jovens alunos. De facto, não generalizando as atitudes comportamentais antes referidas, até se podem encontrar, no actual contexto da sociedade, algumas justificações, para o modo como actuam, onde a compensação pelas falhas no acompanhamento dos filhos parece acabar por ser feita através de um certo facilitismo e de alguma permissividade. Isto é, como sublinha Pierre Bourdieu, as acções pedagógicas exercidas pelas famílias e pela Escola "não se complementam harmoniosamente" dada a desigual familiaridade e distância cultural perante a Escola.

PS: O presente artigo, não se apresenta como uma critica a eventuais e/ou evidentes deficiências do sistema educativo em Portugal.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Mito ou realidade?

Politicas pouco sustentadas, quer sejam sociais, económicas ou ambientais, podem ter múltiplos impactos, condicionando desse modo as potencialidades de desenvolvimento. Vem isto a propósito de algumas discussões, sobre energias alternativas, que de quando em vez têm ocorrido, nos últimos tempos, no nosso país e que tentaremos aqui dissecar sem tomadas de posição.
Em Portugal, tal como noutras economias mais desenvolvidas, concluiu-se que não se pode continuar a apostar única e sistematicamente em energias poluentes e finitas como é o caso do petróleo, não só pelas consequências nefastas para o ambiente, mas também para a economia. Isto é, concluiu-se que a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável, são conceitos que devem ser vistos não só como indissociáveis, mas como complementares.
Alternativas? Por um lado, o nuclear, por outro, as chamadas energias verdes.
O nuclear tem por detrás de si dois fantasmas, o da Guerra Fria e o do desastre de Chernobyl. No actual contexto mundial o primeiro tende a ser mais proeminente do que o segundo, veja-se a novela Iraniana, isto depois da novela Norte Coreana.
O nuclear como desastre, no caso das centrais, é um dos muitos casos de baixa probabilidade, mas de alto risco, ou seja, a probabilidade de existir um desastre numa central nuclear é muito baixa, mas se ocorrer poderá ser de consequências elevadas.
Que fazer então? Neste caso, confiar nos especialistas do mesmo modo que confiamos num médico quando do mesmo sentimos necessidade, ou como confiamos no piloto sempre que entramos num avião.
Que se quer dizer com isto? Que não se deve entrar em histerias sem que primeiro se faça um bom diagnóstico da situação e a respectiva avaliação dos prós e contras de tal investimento. A sustentabilidade diz-nos, entre outras coisas, que não devemos deixar para as gerações vindouras consequências nefastas da actualidade, mas no entanto, um dilema se afigura: o que será mais nefasto para as próximas gerações de portugueses e portuguesas, o constante adiamento das inevitabilidades ou o deixar a baixa probabilidade de altas consequências ?
No nosso país existem, no entanto, outros tipos de possíveis e viáveis apostas, como sejam, e com especial ênfase e devido às características geográficas do território nacional, as energias: eólica, solar, das ondas e marés e barragens.
No caso das barragens, por exemplo, dar-nos-ão por um lado, energia eléctrica, por outro lado, podem garantir reservas de água, o que num futuro próximo não deixará de ser de suma importância. Se encontrarem vestígios arqueológicos como aconteceu em Foz Côa, faça-se o mesmo que em Abu Simbel no Egipto, ou seja, transfiram-se os mesmos para outro local.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Mar Congelado



Fotos espectaculares de um fenómeno, não social, mas natural em Cape Town / Africa do Sul, gentilmente enviadas pelo nosso leitor César Hernâni.

Comemoração

Ontem foi um dia importante para nós.
Comemorámos vários feitos: a primeira quinzena de existência deste blog, o nosso centésimo visitante (infelizmente só desde o dia 15/10 é que temos contador), a nossa internacionalização, com visitantes vindos de vários pontos do globo, tais como, Espanha, Alemanha, Itália, México, UK, Brasil e China (só ainda não conseguimos perceber porque razão é que, o mapa, não assinala estes três últimos países) e, eu... continuo sem trabalho há cerca de cinco meses.
Para comemorarmos, o “Conselho Editorial”, ou seja, eu e a Lena, decidiu que estes feitos mereciam ser assinalados de forma condigna mas, ao mesmo tempo, simples pois os tempos são de crise e não se pode andar em grandes estravagâncias.
Optámos por algo original e enveredámos pelo mundo do cartoon. O resultado pode não ter sido o mais desejado (parece simples, mas é muitíssimo complicado, daí as nossas saudações para todos os cartoonistas que nos brindam com as suas obras) mas como diz o ditado “o que conta é a intenção”.
Eis o resultado desta nossa investida pelo “quotidiano” do cartoon.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

"Era das identidades múltiplas"

Foi recentemente publicado o livro de Constantin von Barloewen: “Antropologia da Globalização”, obra na qual são discutidas as dimensões culturais e subjectivas provocadas pela Globalização.
Contrariamente ao que por norma acontece com a maioria das obras sobre a globalização, von Barloewen, não aborda a dimensão económica da globalização mas, a necessidade de reencontrar a utopia, de motivar para a acção e de redesenhar uma ética, ou seja, parte da constatação de que a “razão físico-matemática das ciências naturais e da economia, com a sua tecnologia, não coincide mais com a razão cultural, que se expressa na arte e nas ciências humanas”.
Constantin von Barloewen sublinha a necessidade da existência de um nivelamento mundial das tradições culturais e religiosas, apontando a necessidade de se passar da racionalidade a uma nova espiritualidade. Aponta, ainda, ser tempo de as culturas coexistirem, de existir uma nova ordem pluralista no mundo e, de uma diversidade reconciliada, tanto das culturas, como das religiões.
Para melhor conhecerem este professor de Antropologia Comparada da Escola Superior de Design e Artes de Karlsruhe, nascido em 1952 em Buenos Aires e que cresceu na Argentina e na Alemanha, que deu aulas em várias universidades da Europa e dos EUA e que vive actualmente em Paris. deixamos aqui a entrevista de Constantin von Barloewen ao DW-Word.

sábado, 18 de outubro de 2008

Erradicação da Pobreza: O contexto portugues

Segundo um estudo do INE, divulgado no passado dia 16 de Outubro, com dados referentes ao ano de 2005, cerca de 19% da população portuguesa, aproximadamente dois milhões, vive com menos de 366 euros por mês, ou seja, no limiar da pobreza.
O estudo aponta, ainda, que cerca de 32% da população activa entre os 16 e os 34 anos viveria na pobreza se dependesse apenas do seu trabalho, isto é, sem as transferências sociais do Estado, cerca de quatro milhões de portugueses seriam pobres.
Os dois milhões que vivem no limiar da pobreza, são maioritariamente idosos sozinhos e famílias cujo agregado familiar é composto por cinco ou mais elementos. No lado oposto, encontram-se as famílias sem filhos ou com somente um filho.
Apesar deste panorama, Portugal é o país da União Europeia que mais reduziu a pobreza nos últimos anos, continuando contudo acima da média europeia.

Para os mais interessados deixamos aqui e aqui, alguns dos últimos estudos realizados no nosso país sobre as características e a evolução da pobreza em Portugal.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (2)


A pobreza pode ser vista como uma condição colectiva de pessoas pobres, grupos, e mesmo de nações. Para evitar este estigma essas nações são chamadas normalmente países em desenvolvimento.
A pobreza pode ser absoluta ou relativa. A pobreza absoluta refere-se a um nível que é consistente ao longo do tempo e entre países. Um exemplo de um indicador de pobreza absoluta é a percentagem de pessoas com uma ingestão diária de calorias inferior ao mínimo necessário (aproximadamente 2000/2500 kilocalorias).
O Banco Mundial define a pobreza extrema como viver com menos de 1 dólar por dia (PPP)e pobreza moderada como viver com entre 1 e 2 dólares por dia. Estima-se que 1 bilhão e 100 milhões de pessoas a nível mundial tenham níveis de consumo inferiores a 1 dólar por dia e que 2 biliões e 700 milhões tenham um nível inferior a 2 dólares.

(Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre)

Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza (1)


A 17 de Outubro de 1987, o apelo do Padre Joseph Wresinski, reuniu cerca de cem mil pessoas no Adro das Liberdades e dos Direitos Humanos no Trocadéro em Paris, as quais prestaram homenagem às vítimas da fome, da violência e da ignorância.
A partir daí, o 17 de Outubro, tornou-se para os mais pobres e para todos aqueles que, a seu lado, recusam a miséria e a exclusão, a data de reunião, no mundo inteiro, de testemunho da sua solidariedade e compromisso, para que os Direitos Fundamentais sejam restituídos aos mais pobres.
Apesar da pobreza mais severa se encontrar nos países subdesenvolvidos esta existe em todas as regiões. Nos países desenvolvidos manifesta-se na existência de sem-abrigo e de subúrbios pobres.
(Parcialmente retirado de Wikipédia, a enciclopédia livre).

Queijo embolorado

Ninguém tem dúvidas em concordar que a actual sociedade assenta num conjunto de valores, tais como, diversão, individualismo e consumismo, três valores essenciais na sociedade actual, mas que, como nunca, são em tudo opostos para quem tem de lidar eficazmente com a necessidade de mudança de vida que se perspectiva.
Lembrei-me então de Spencer Johnson (2001), autor de um daqueles livros de aspecto insignificante, com um titulo que não lembra ao diabo, mas que nunca como hoje poderá ser um trunfo.
O dito, versa uma fábula simples, mas criativa, sobre o quotidiano de quatro pequenas personagens, que buscam um novo “Queijo”, dois ratinhos: Fungadela e Correria e, dois pequenos humanos: Pigarro e Gaguinho, os quais tendem a representar as características humanas, sejam elas simples ou complexas, independentemente da idade, sexo, etnia ou nacionalidade.
Entenda-se por “Queijo” toda a estrutura da nossa vida familiar ou profissional, e que no actual contexto está a sofrer enormes mexidas, levando a que cada um tente lidar com essa mutação do modo mais eficaz possível.
Lentamente, no contexto neo-liberal globalizado, o bolor foi aparecendo no nosso Velho Queijo, mas não reparámos, não o quisemos admitir ou não quisemos ver o que estava a acontecer.
No actual labirinto que se nos depara, várias soluções se nos afiguram.
Agirmos como Fungadela e Correria usando o método de tentativa-e-erro, isto é, percorrendo caminhos e se estes se revelarem infrutíferos, voltando ao ponto de partida e procurar novos caminhos.
Como Pigarro que com as suas convicções e emoções humanas a toldar-lhe a forma como encara as coisas as torna mais complicadas, pois não só resiste como recusa a mudança. Ou como Gaguinho que aprende a adaptar-se e com o tempo perspectiva que a mudança o pode conduzir a algo melhor?
Gaguinho talvez seja o melhor exemplo. Liberto do velho “Queijo”, já demasiado decrépito, opta por mudar para não ser extinto, ou seja, conclui que é mais seguro procurar no labirinto do que permanecer numa situação em que mais cedo ou mais tarde acabará por ficar sem “Queijo”.
Em suma, perante a mudança, o termos o nosso “Queijo”, mesmo que diferente, traz-nos felicidade. O imaginarmo-nos a provar o novo “Queijo”, mesmo antes de o encontrar, levar-nos-á até ele.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Liberta o homem, e ele criará

Empreendedorismo

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Geert Hofstede: “A globalização é feita de boas intenções, mas também de maus propósitos.

Geert Hofstede, internacionalmente conhecido pelo seu trabalho sobre culturas organizacionais e nacionais, “de certa forma inventou o conceito de diversidade cultural como uma disciplina da gestão” (The Economist). De origem alemã, pode dizer-se que influenciou consideravelmente as implicações humanas e culturais da globalização, tomando por base para as suas conclusões, as pesquisas realizadas em inumeros países. A maior contribuição dos estudos de Hofstede foi o seu modelo cultural de cinco dimensões (distância ao poder, individualismo vs colectivismo, masculinidade vs feminilidade, aversão à incerteza e orientação para o longo prazo) que, segundo o autor, existem em todas as culturas, mas, que assumem carácter diferente em cada uma delas.
Aquando da sua última visita ao nosso país, no passado mês de Maio, Hofstede concedeu uma entrevista ao Semanário Económico, a qual deixamos aqui como forma de melhor conhecer este guru europeu da gestão e autor do modelo das “dimensões culturais”.

Magalhães, o Instrumento...

"Países chegam a consenso para coordenação no combate à crise", o anúncio foi feito pelo presidente do Comité Financeiro e Monetário Internacional (CFMI), Boutros-Gali.
Também o director-geral do FMI, Dominique Strauss-Khan, disse «que o mundo está agora no caminho para a resolução da crise».
O Fundo Monetário Internacional (FMI) garante que já existe o instrumento necessário para reparar o sistema financeiro actual.


Em função destes comunicados, na sua abertura, as Bolsas na Europa disparam com Lisboa a ganhar.
A Bolsa em Lisboa começou a sessão, deste dia 13 de Outubro, a ganhar mais de 1%, estando à hora desta publicação, já a disparar nos 7%, numa clara resposta de tranquilidade depois de ontem os líderes da Zona Euro terem aprovado um plano de acção que passa pela europeização do Magalhães .
Também na Ásia, as bolsas asiáticas recuperaram hoje da pior semana desde 1987, depois dos bancos centrais da Austrália e da Nova Zelândia terem garantido a aquisição do Magalhães para todas as instituições financeiras dos dois países. No Japão, as bolsas encontram-se encerradas devido a feriado, mas tudo indica que o governo do pais do sol nascente siga os passos dos seus congéneres asiáticos.
Nos Estados Unidos, aprovado o plano Paulson, George Bush afirma que o objectivo principal para a revitalização da economia norte-americana continua a ser a compra acções do Magalhães logo que o governo português decida cotar o produto em bolsa.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Aneis e Alianças

Manda a tradição que na ocasião do noivado haja a troca de alianças. Essas alianças são as mesmas que deverão ser usadas pelos dois após o casamento. Durante todo o período do noivado, os noivos usam a aliança no dedo anelar da mão direita. A de cada um terá as iniciais ou o primeiro nome do outro gravado. No dia do casamento, um dos noivos leva as duas alianças com ele, polidas e com a data do casamento gravada, e estas serão trocadas durante a cerimónia. Após a cerimónia os noivos passarão a usar as alianças no dedo anelar da mão esquerda.
O João e o Pedro, a Fátima e a Clara continuarão a não poder realizar, quer o ritual do noivado, quer o do casamento, depois do chumbo desta sexta-feira, pela assembleia da républica, à proposta de Os Verdes e do Bloco de Esquerda sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo

Em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, deixamos aqui alguns dos "verdadeiros mandamentos" que, segundo o Portugalgay, estão por detrás das limitações actuais.

Milton Friedman - O pai do Neoliberalismo

No meio da crise financeira mundial, a corrente económica que mais é posta em causa é sem duvida o Neo-Liberalismo.
Milton Friedmann, apelidado de o pai do neoliberalismo, foi um dos mais destacados economista do século XX e um dos mais influentes teóricos do liberalismo económico e defensor do capitalismo laissez-faire e do livre mercado.
Deixamos aqui (*) algumas das principais notas do pensamento de um homem, para quem a solução dos problemas de uma sociedade é dada por um sistema de liberdade.


(*) Paulo Gonçalves et al, (2007), Milton Friedmann in Int.à Economia, Iscte, Lisboa

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A lógica objectiva

Na linguagem das ciências sociais, o sentido de função não corresponde ao sentido corrente de tarefa ou de dever a cumprir. A função faz referencia às consequências objectivas da actividade de um elemento do sistema social para o conjunto desse sistema.
No funcionalismo, deve-se ao sociólogo americano Robert K. Merton uma distinção útil entre função latente e função manifesta. No caso em que a função não é pretendida e apercebida dir-se-á que ela é latente; no caso contrário dir-se-á que ela é manifesta.
Em qualquer dos casos é a lógica objectiva que interessa, neste caso, ao sociólogo. Na primeira ela não corresponde à lógica intencional, enquanto na segunda corresponde.
Segue-se um pequeno vídeo de um exemplo simples, para ilustrar a noção de função:

A consequência efectiva deste “cerimonial” (lógica objectiva) será, neste caso uma função latente, ou seja, a do reforço da coesão de um grupo, onde são oferecidas ocasiões periódicas aos seus membros disseminados de se reunirem a fim de participarem numa actividade comum.
Como diria Merton: «graças à aplicação sistemática do conceito de função latente, um comportamento aparentemente irracional pode em certos casos aparecer como tendo uma função positiva para o grupo».

HIV/SIDA: Idosos

Na época do HIV/SIDA, do aparecimento de fármacos, como por exemplo o Viagra e, ainda, da alarmante despreocupação e da não consciencialização sobre os riscos de contrair a doença, mensagens de sexo seguro também se deveriam aplicar aos mais idosos.
Confrontamo-nos diariamente com campanhas e spot’s publicitários, que promovem os mais variados produtos para os casos de impotência sexual ou disfunção eréctil, mas o mesmo não acontece no que se refere aos riscos de doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV/SIDA, mantendo-se o idoso pouco informado e sensibilizado quanto aos comportamentos de risco.
Os centros para controlo de doenças e prevenção dos mais variados países, referem que entre os doentes com HIV/SIDA, a percentagem de doentes com mais de 50 anos, aumentou continuamente a partir dos anos noventa e início do novo século. Portugal não é excepção, 12,4% dos casos totais, são homens e mulheres desse grupo etário.
Variados factores contribuem para os números apurados, entre outros, a falta de objectividade que induzem a diagnósticos errados e a existência de pré-noções, no que diz respeito aos idosos, quer por parte da classe médica, quer por parte dos familiares.
O idoso chega aos serviços de saúde geralmente numa situação de SIDA declarada, porque a infecção não é precocemente detectada, como acontece no caso de outros grupos de risco.
E porquê? Porque outras doenças a mascaram. Perante um idoso com falhas de concentração e memória quem pensará em HIV/Sida? Não são estes sintomas, na maioria, parte integrante do processo de envelhecimento ou um sinal precoce da doença de Alzheimer?
Outro factor é a existência do tabu de se falar sobre sexualidade com os idosos. Quem os questiona sobre os seus comportamentos sexuais? Infelizmente, muitos de nós adultos, não conseguem imaginar um pai, uma mãe, um avô ou uma avó, como sexualmente activos, no entanto, estudos recentes verificaram que mais de metade dos homens e mulheres com mais de 50 anos de idade, mantêm relações sexuais regulares. Estas são muitas vezes proporcionadas por encontros sexuais anónimos ou recurso à prostituição. É precisamente aqui que reside o perigo, pois comprovadamente, os casos de infecção nesta faixa etária (heterossexual) são quase sempre por contaminação sexual.
Os mais recentes dados sobre a pandemia do HIV/SIDA nos países desenvolvidos, alerta para o facto de ser o idoso o único grupo etário onde se verifica uma tendência crescente da infecção, pelo que se torna cada vez mais importante a discussão do problema da SIDA na terceira idade.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O outro lado da moeda... está a enferrujar

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Nada de novo... Portugal fez tudo errado mas, correu tudo bem

"Portugal fez tudo errado mas, correu tudo bem". Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português. Havia até agora no mundo países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam. Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno. Alias, tem mesmo um só elemento: Portugal.
A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos índices de aselhice económica foram detectados em Portugal, um dos países que tinha também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso. Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O País Que Não Devia Ser Desenvolvido", O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses.
Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no período. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável. Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento. Actualmente a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no mesmo período. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de desenvolvimento mais bem sucedidos no mundo actual. Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação. Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhantes às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ. Desde o "condicionamento industrial" salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante. É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma: Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento. Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade. Citando as próprias palavras do texto: "Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento?" A resposta, simples, é que ninguém sabe. Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho. A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo português. No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável. O texto termina dizendo: "O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?".


By João César Neves (Economista)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Afinal o Empresariado é... português

Há dias, Cavaco e Silva apontou o dedo ao empresariado existente em Portugal, o qual, segundo o Presidente da Republica, vive demasiado encostado ao Estado. Aos ditos subsídio-dependentes deve contudo ser, igualmente, apontado o excessivo preconceito para com quem apresenta níveis de escolaridade superior ao da esmagadora maioria deles.
Em 2002, tive um sonho, entretanto, transformado em pesadelo.
Estava, então na recta final dos meus 39 anos de idade e, somente com o 9º ano de escolaridade. Sonhei que estando eu inserido num mundo a cada dia mais Global e, também, já inserido numa sociedade, cada vez mais, do conhecimento e da informação, a minha baixa escolaridade poderia ser um óbice.
Regressei aos bancos da escola. Fiz o Secundário e concorri ao Ensino Superior. Entrei e ganhei o meu primeiro prémio de mérito académico.
Nunca, antes, estivera desempregado. Mas, os tempos, afinal, estavam a mudar.
Infelizmente, 34 anos após o 25 de Abril, quase tantos, anos, como os de ditadura, continuamos com uma “mente” demasiado pequena. Acusamos, correctamente, o homem do Estado-Novo, de nunca ter apostado na escolarização da população, pois com ela surgiriam, por um lado, a criatividade e modernidade, mas, por outro lado, seriam postas em causa as velhas tradições, os hábitos, os status quo e conceitos institucionalizados.
Ninguém, até à uma dúzia de anos, tinha duvidas do défice de escolaridade existente em Portugal e que, este teria de ser alterado. Os níveis de escolaridade, entretanto, aumentaram, independentemente, de as sucessivas reformas do ensino, serem ou não as adequadas.
Mas, afinal, os tempos continuavam em mutação.
Actualmente a escolaridade elevada parece tender a pouca ou nenhuma serventia, perante o nível de empresariado existente em Portugal, ou seja, perante um empresariado baseado em patrões, chefes e encarregados, os quais são cerca de 90% do empresariado existente.
Assalariados com uma escolaridade elevada, parece tender a assustar, estes senhores, pois na sua ideologia, algo fundamentalista, indivíduos com uma escolaridade, acima da deles, são potenciais usurpadores ou expropriadores de um certo “status quo” institucionalizado.
No, actual contexto, infelizmente, a grande maioria dos desempregados, com alta escolaridade, são obrigados a omiti-la para conseguirem trabalho, pois de outro modo são estigmatizados e, a cada mês que passa, engrossam os quadros do IEFP de “desempregados de longa duração”.
Nunca, como hoje e, numa sociedade que se quer moderna, eficiente, empreendedora e sustentável, como, deveria ser, a portuguesa, a BAIXA ESCOLARIDADE foi tão valorizada pelos empregadores. Segundo dados do INE, o desemprego tem diminuído entre os indivíduos com no máximo o 12º ano de escolaridade, com especial incidência nos com no máximo o 9º ano de escolaridade.
Por mais que se aponte o dedo aos, actuais e antigos, governantes deste país, se as mentalidades “empresariais(?)” não sofrerem mutações, os níveis de desemprego dificilmente diminuirão em Portugal, ou seja, o actual estado de coisas, não pode ser imputado, somente, às sucessivas governações, estado da economia, etc.

PS: hoje, pelas 12.30h, o site do IEFP dispunha de 4.994 Ofertas de Emprego Nacionais, dessas somente 111 são destinadas a Licenciados.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A crise do Subprime em modelo simplificado

Para quem não percebeu ou não sabe bem o que é, ou gerou a crise americana, segue um breve exemplo económico para os mais leigos perceberem:

"Na Vila Carrapato, o Ti Joaquim tem uma tasca, e decide que vai vender copos fiados aos seus leais fregueses, maioritariamente bêbados e quase todos desempregados. Ao decidir vender a crédito, pode aumentar o preço da dose do tinto e da branquinha (enfatizam-se estes dois produtos para realçar os diferentes preço que os pingunços pagam pelo crédito). O gerente do banco do Ti Joaquim, um ousado administrador formado com um curso altamente reconhecido, decide que o livro das dívidas da tasca constitui, afinal, um activo receptível, e adianta dinheiro ao estabelecimento, tendo os fiados dos pingunços como garantia. Ao fim de algum tempo, os executivos do banco, igualmente ousados e formados com um curso altamente reconhecido, transformam-nos em acrónimos financeiros altamente apelativos, mas que ninguém sabe exactamente o que querem dizer, tais como, CDB, CDO, CCD, UTI, OVNI, SOS.
Esses, adicionais, instrumentos financeiros, alavancam o mercado de capitais e conduzem a operações estruturadas de derivativos, nos mercado de commodities e derivativos financeiros, cujo lastro inicial toda a gente desconhece, ou seja, os tais livros das dívidas do Ti Joaquim.
Esses derivativos vão sendo negociados como títulos sérios, com fortes garantias reais, nos mercados dos mais variados países. Até que alguém descobre que os bêbados da Vila Carrapato não têm dinheiro para pagar as contas, e a tasca do Ti Joaquim abre falência... e toda a cadeia ruí".

Fonte: anónimo da net